segunda-feira, 14 de abril de 2008

Escola base 2?


Há cerca de 15 dias o assunto mais comentado é a morte de uma menina de 6 anos, jogada da janela do apartamento de seu pai e madastra, em SP, onde ela passava, semana sim, semana não, seus finais de semana, afinal, seus pais eram divorciados. Pois bem, a polícia ainda investiga o caso, mas o povo nas ruas já vê culpados, se pudesse linchava e sabe-se lá mais o quê faria. Obviamente instigados pela imprensa, que divulga o caso como bem quer (como talvez dê mais Ibope). A forma de divulgação do caso lembra um (Escola base) q é usado de exemplo nas aulas de jornalismo das maiores universidades do país, para que não se repitam os mesmos erros. Será q os "coleguinhas" não aprendem? Posto abaixo um texto q encontrei na net, do jornalista Sidney Rezende, sobre o assunto. Faço das dele minhas palavras.


"A imprensa brasileira já investigou, apurou os dados fundamentais, dispõe de provas e também já fez o julgamento: quem matou Isabella Oliveira Nardoni, 5, foi o seu pai Alexandre, 29, e a madrasta da menina, a estudante Anna Carolina Jatobá, 24. Dito isto, o caso está encerrado. Tudo o que você lerá abaixo é apenas a reflexão de um jornalista que acompanha, a exemplo do cidadão, os acontecimentos mais importantes do seu país. Quase um diário.
Estamos diante de uma tragédia que se assemelha ao famoso caso da Escola Base, no Bairro Aclimação, em São Paulo. Em março de 1994, os jornais de São Paulo denunciaram seis pessoas de envolvimento no abuso sexual de alunas desta escola. O fato não existiu.
Hoje ninguém discorda que ocorreram exageros e abusos que mudaram para sempre o destino de inocentes. Informadas equivocadamente pelo noticiário, pessoas depredaram a escola e ela teve que ser fechada. Seus proprietários foram perseguidos e execrados. Este lamentável equívoco é estudado há anos nas Faculdades de Comunicação do nosso país. O poder poderoso da mídia sobre o cidadão indefeso e sem mecanismos definidos de proteção à verdade.
Abril de 2008 Equipes gigantescas de repórteres, cinegrafistas, profissionais de comunicação, produtores, motoristas e colaboradores se apinham na porta da delegacia para colher uma imagem, um depoimento, algo que alimente a curiosidade da grande massa: Quem matou Isabella Nardoni?
Para obter algo novo, os profissionais pisam uns nos outros, empurram autoridades, acuam o delegado, investigadores, advogados e até o promotor Francisco José Taddei Cembranelli, que cumpre o seu papel de denunciar quem ele julga ser os responsáveis pelo crime: o pai e a madrasta. Os repórteres enterram os microfones na boca de alguém que possa dar-lhes alguma migalha.
Nesta semana, um batalhão de policiais, - os mais corpulentos que a Polícia Civil paulista podia dispor no momento, - quase não conseguiu conduzir Anna Carolina Jatobá até o carro. Eles tiveram que usar a força. E, aos gritos, exigir dos profissionais da Imprensa que dessem alguns centímetros para que o grupo pudesse caminhar até o veículo. Selvageria. Tudo errado. Mas isto, é um detalhe de varejo.
Vamos ao principal. Os editores dos jornais tem escolhido fotos de ângulos desfavoráveis para fixar a idéia que temos desde a infância de que madrasta é sempre cruel, perversa e que quer o mal dos seus enteados. Foi ela. A madrasta precisa ser culpada logo. Antes dos laudos da perícia, da conclusão das investigações, e do término do processo.
A Polícia e a Promotoria parecem dispor de elementos consistentes de que o casal suspeito devo ser tratado desta forma. Tanto é verdade, que a prisão foi decidida pelo delegado responsável pelo caso. Mas a polícia, em tese, pode estar errada. A delicadeza com que este crime, mesmo sendo hediondo, deve ser tratado foi compreendido pelo juiz Maurício Fossen, que decretou segredo de Justiça.
É fundamental que a investigação seja concluída. E a Imprensa tem que estar atenta ao a isenção da investigação. E não alimentar o oposto. A ilação é uma perversidade. Os jornalistas já construíram na cabeça do leitor, ouvinte e telespectador que o caso esta concluído. Não está.
Mesmo que se constate, no futuro, através de provas cabais o que que crime aconteceu como se imaginou, não cabe a Imprensa julgar ou pré-julgar pessoas antecipadamente. Ela tem que informar, noticiar, dar amplitude a tudo o que ocorre numa determinada circunstância. E trazer elementos novos, se for o caso, mas baseado em dados reais.
Acuar pessoas, distribuir informações incompletas e dar consistência a dados vazios é um crime perverso. O que colegas da mídia tem falado sobre o caso é de arrepiar. Qual é o Procon da mídia? Quem defende acusados inocentes? A quem recorrer quando a mídia massacra? Reflitam sobre o que é interesse público e o que é interesse do público.
Não sabermos ainda quem matou Isabella Nardoni, mas já indícios e suspeitos. Vamos ter um pouco mais de paciência. A verdade vai aparecer. Espere um pouco. Ops, a Imprensa diz que já tem culpados"
Sidney Rezende - http://www.sidneyrezende.com/sec_blog.php

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